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redemunho

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Tanto desacerto 1ª Parte

E tinha estado num sonho de cabruncos, cheio de flores no pescoço, mulheres assanhadas puxando pela bainha da calça; até cachorro latia em seu nome. Passou pra lá não sabe como – dormir é sempre perigoso.
Lembra que comia junto com a mulher, e que acordara dentro daquele lugar luminoso, cheio de plantas – algumas carnívoras – que mais pareciam cantar junto aos passarinhos; curió da casa do vizinho que morreu vitima do frio; anum que caiu com golpe de estilingue, canário que inventou de comer bicho morto. Mas que raio de alma é essa pra escolher aquele lugar que não tinha resposta nem pra ele que era dono da cabeça?
Sempre acreditou em vida após a morte; em alma penada também: tinha medo. Dizia sempre: “- Deus é de ser respeitado, mas como só me apego a ele, pra que ficar troteando com gente que já morreu” – dizia. Agora que ta lá, num lugar que mais o céu parecia, derramava lagrimas de emoção em ver gente que achou já ter visto lá pelas bandas da fazenda – atravessando na carreira do cavalo a cerca que criava rua com o lago da Santa Virgem.
Na hora que chegou e viu aquele montareu de gente olhando pra ele, pensou em escutar um monte de voz linda – as mulheres chamavam mais a atenção - mas só ouviu “aoaoao”. Uma zoadeira empolgada que mais fazia com que os olhos daquela gente saltassem pra cair em suas mãos pra dar-lhe como oferenda à sua coragem de viver gostando das coisas boas. As mulheres, que mais pareciam as meninas – que só de calcinha brincavam no lago no meio do dia – repetiam a beleza vista sentada junto à mesa na hora da janta.
Cabelo de ferrugem, aloradas do amarelo do Sol, pretas que nem as filhas do Valmor, todas sorriam apoiando sua vinda. Como isso, só quando chegar em casa do trabalho, ou quando tira tempo com a mulher e vão encontrar parceiros de alegria aberta nas gafieiras.
O trabalho é duro todo dia: catar alface, coentro, tomate, cebola, cebolinha, pimentão, quiabo, pimenta – cada uma cresce todo dia em dia diferente (se fosse junta ele caia morto) – e levar pra feira nos quintos, que tem todo dia em cidadezinha de dia diferente, é que nem mula que leva peão pra tanger boi no calor do dia; brabeira.
De algumas coisas boas ele recordara; recordando pra testar se estava morto mesmo? – mas como alma penada aparecia pra gente conhecida, arriscar não custa nada.A época em que foi escolhido como “meu homem”, as boas risadas dos velhos que passavam a noite junto da fogueira contando histórias infantis no carregar do aroma do preto do café feito no dia do descanso de Deus. Silenciavam no pensamento que queimava no vermelho da brasa visto no atento dos olhos – seguravam mais besteiras só um pouquinho. No solto era uma gargalhada só.
Falando do Divino, que peste de impressão foi aquela de ter visto o Diabo sorrindo pra ele como se do céu ele fosse? Lá pelas bandas o Dito só faz armengo de maldades. Será que agora era amigo do Homem, depois de ajudar em tanta bobagem com os cabras desajuizados de sua Terra?
Maldade indemonizada já utilizou algumas vezes – já foi parceiro do coisa-ruim em serviço de impor respeito, subindo voz com fogo nos olhos pra de modo acertar quem limites se passar quando o assunto for verdade: - “ Não há justiça onde não há verdade”, disse prum onça pintada que chegou de conversa trocada pro lado da mulher.Desconfiou como prata na sopa pra tirar veneno. Somente disse uma vez; mirava o cabo peixeira como se pudesse com a mente fazer ela voar furando o bucho do sabido. Com o capeta não se pede permissão pra matar: se vira parceiro – como que nem vira-lata com criança chutando bola. Mas pra ta naquele lugar de tamanha esperteza, mesmo que não tenha ido pro além, por feitio da mente, era de um dia querer dele ou presente caído Virgem pra que ele conhecesse o filho abençoado? Passeou.


arnon gonçalves

terça-feira, janeiro 10, 2006

Esse ponto

Ter cadeiras postas em simetria com a sombra que ocupa metade da sala, era um sinal de cuidado. Madeira vermelha, limpa; conservação era ato que o homem deveria sempre carregar ao sempre. Cortinas sempre aberta; vento a arejar a casa: “casa fresca”.
O Sol sempre bateu na janela; o cuidado com a mobília era diário. O quadrado de calor surgido no espaço da janela entreaberta é a recusa à preservação das pequenas coisas que surgem no sabor do cansaço.
No meu pequeno lugar não se projeta tais ensinamentos. Ou sim? A aridez das coisas se comporta em sua instabilidade; mudam sempre de lugar ou de posição. Mas isso é uma nova forma de deixar tais coisas comportadas.
O Sol também cai pela minha janela. Cai por cima da comodidade noturna da minha cabeça.
Agora as coisas estão mudando aos costumes criados por hábitos programados; surgidos por outros hábitos vindo de outros hábitos, surgidos de outros hábitos.
Sugerir o quê? Deixar? O que era para unir transformou-se em “unir”. Une isso-antes ao aquilo-agora: unidade.
Na noite, como a luz não estraga – pouco bate – “fecha tudo por causa da água que molha”; que essa sim, estraga.


arnon gonçalves