.comment-link {margin-left:.6em;}

quarta-feira, agosto 03, 2005

Minha barca desliza.

Eu não sei se essa sensibilidade é algo enraizado em nos, ou é muita coincidência, mas o que me impressiona no Brasil – e não só a mim – é a maestria do músico ou letrista brasileiro em transpor com tanta sensibilidade em aspectos fáceis (isso visto de um ponto individual) ou mesmo geral, a própria vida do cidadão deste país, e suas necessidades.
Um país cheio de problemas, músicos – seja em qualquer época de desenvolvimento da música aqui – esquivam-se diante das tristezas que pessoas mal intencionadas proporcionam.
Falam sobre amor, sobre luta, “levantar sempre”. O músico brasileiro cria “ânimos” com nossos problemas, tira das desgraças panos escuros que se colorem com efeitos atraentes, expelindo ares afrodisíacos – aspirados pelo próprio personagem da obra. Ele cheira, sente, percebe-se.
Os que falam de amor, sentam, lutam pra escrever, lembram dos antigos relacionamentos, ou até nos que poderão conquistar. Esses podem ser comparados a outros estrangeiros, mas não é a mesma coisa. O amor brasileiro possui um charme nu.
Aos que falam do social; trazem a ginga, malandragem, a sensualidade. Muitos mesclam com as paixões avassaladoras, com refúgio na bebida – sendo uma forma de apego. Mostra como o pobre ludibria os defeitos da pobreza, tomando sempre a felicidade o ponto inicial. Algumas vezes a felicidade parece ser uma camada que encobre a música. Como um barco que, mesmo ao balançar, torna-se chão na maciez que é a música-mar.
Ainda tem os que por forças mais descendentes, elevam-se em movimentos corpóreos, conduzidos por uma “trama ritmada dos tambores”. Nesses a música ganha forma. Os pés fazem o compasso, na boca sai o canto, os braços se infiltram no silencio entre uma batida e outra, o quadril transpira a sexualidade ali contida.
(Isso somos eu e você.)